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magia primavera natural dona vida efêmera

magia primavera natural dona vida efêmera – Talvez muitas das pessoas, sobretudo as que moram nos grande centros urbanos já não possam mais perceber a magia da chegada da primavera e presenciar este magnífico espetáculo que nossa Mãe Terra nos propicia.

Mas, enquanto ainda temos matas, podemos celebrar todo o encanto que este ciclo da natureza representa.

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magia primavera natural dona vida efêmera

A poetisa Cecília Meireles nos brinda com uma preciosa crônica, intitulada Primavera, que nos leva a refletir sobre a magia da “primavera natural”, enquanto ela é assim. Seguem trechos deste texto:

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.

A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu.

E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul.

Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra.

Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

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(Transcrição de Cecília Meireles: Obra em prosa 1, Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1998, p. 366. Grifos nossos.)

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