O clone humano é possível?

A clonagem talvez se constitua, no futuro, em um dos principais instrumentos de uma revolução na área médica, conhecida como Medicina Regenerativa, e que poderá ser a solução para uma série de doenças degenerativas como as distrofias musculares, a cirrose hepática, o câncer e para males causados por traumatismos como a tetraplegia e a paraplegia.

Contudo, essa tecnologia, que poderia ser extremamente importante para a eliminação de vários males que afetam nossa espécie há milênios, tem enfrentado uma forte objeção por vários setores da sociedade. Que motivos estariam relacionados a essa oposição contra o uso da clonagem?

Grande parte do debate ético a respeito da clonagem envolve algo que possivelmente jamais irá existir: a clonagem de seres humanos. Essa metodologia colocada em evidência após a clonagem de vários animais e cujo êxito mais conhecido pelo público foi a famosa ovelha Dolly, em 1996 pela equipe de Ian Wilmut, do Instituto Roslin, na Escócia.

A primeira forma de clonagem produz indivíduos geneticamente idênticos (denominados clones), porém diferentes de seus pais. Por outro lado, a transferência nuclear somática se parece com um processo de reprodução assexuada, pois gera indivíduos geneticamente similares a outro previamente existente.

Depois de Dolly houve outros êxitos, porém de menor repercussão na área de clonagem reprodutiva, como a obtenção de macacos resos nos Estados Unidos e a clonagem de uma vaca na França.

Contudo, essas tentativas de clonagem reprodutiva têm se mostrado, até o momento, muito pouco eficientes tendo sido destruídas, em cada procedimento, centenas de células e gerados muitos embriões inviáveis até que seja obtido o clone desejado.

Ocasionalmente, somos informados, através da imprensa, que em algum lugar do mundo está se tentando clonar um ser humano. Claramente, isso é algo impossível com a tecnologia de que dispomos atualmente e, além do mais, não há razões para a realização de tal procedimento, que sacrificaria milhares de células reprodutivas e dezenas de embriões humanos – algo eticamente inaceitável – e, ao final, produziria um ser diferente daquele do qual se originou.

Além disso, devemos também nos lembrar que qualquer criatura viva é o resultado de seu patrimônio genético aliado às influências do ambiente. Dessa forma, um organismo clonado a partir de outro, e que seja gerado e criado em um ambiente diferente, será distinto em seus gostos, preferências e até mesmo aparência.

Portanto, se quisermos viver para sempre, devemos fazê-lo através de nossas obras, de nossos filhos e netos e mesmo através das lembranças que deixemos para as pessoas que convivam conosco.

Jerry Carvalho Borges é doutor em Biologia Celular e Tecidual pela USP e pós-doutorado pela Universidade do Texas, Estados Unidos.

Fonte: Click Ciência – 21/10/2008 – texto integral disponível em:

www.ufscar.br/~clickcie/print.php?id=529